Por Miro Pedroso de Moraes*
Era uma vez uma flor, linda, perfumada e petulante. Cada palavra, cada elogio, era tomada para si e suspirava. O sol e o vento não existiriam sem ela, assim pensava.
A lua vinha com a noite e as estrelas se amontoavam para vê-la. O orvalho refrescava seu calor, e sonhava...
Desejava ser mais livre, voar como os pássaros e sozinha perfumar o mundo. Tentou, mas não conseguiu e descobriu ser prisioneira de um galho.
Se revoltou, mas o galho se fez de surdo. Mas tanto insistiu que o galho lhe segredou que era também prisioneiro de um tronco e, além disso, outras flores e folhas dependiam dele e mesmo que pudesse, dali não sairia. Tentou convencer o tronco a voar com ela e este quase se convenceu, mas lembrou-se de que precisava de suas raízes e estas estavam presas sob a terra.
Triste, a flor pensou em desistir. Na manhã seguinte não veio o sol e o vento soprou mais forte e ela quase caiu do galho. Se refez do susto e friamente calculou com seu botão - o vento me libertará. Com o vento veio a chuva, e embaixo de si se fez uma poça d'água e foi aí que ela caiu. A princípio, feliz por sentir-se livre do galho, só uma coisa a preocupava, ela não tinha voado como os pássaros, mas também não se preocupou por muito tempo. Ficou ali deslizando de um lado para o outro e não percebeu que a poça d'água se transformara em uma enxurrada. De repente se sentiu arrastada pelas águas e em desespero quase afogada, ainda conseguiu visualizar uma árvore semelhante a sua e uma flor tão igual a si, que no seu último suspiro de vida, acreditou que não estava morrendo, e sim, renascendo em outro lugar.
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